105º Poema da Semana | 25mar2014

 

O bravo mar nas beiras de uma escarpa
avança enquanto estala o pensamento;
o irado, imenso poço em tudo lento
dirá que de seu fim nem Deus escapa.

Ao longe, à lua, um breve barco zarpa,
e pouco nele indica movimento,
apenas seu noturno estar isento;
o sonho, então, se exibe como um mapa:

há linhas de hidrográfico destino,
há lenho e remo em mão de quem navega,
existe um delicado descortino

adiante, onde se mostra astuta pega,
roteiro de algum gênio submarino
amante de brincar a cabra-cega.

___________________Angústia de remar eu não contorno
___________________espelho de meu rosto enfim me torno.

A noite expõe no escuro o claro cetro;
é como um pesadelo: onde há quem chame
um mostro de erosão que caiba em metro?

Silente o mapa-múndi de origami,
autômato retrô que mora retro
à nova que se diz como reclame.

A fuga é certa, espera-se um lugar
de anárquico estupor desobrigado;
se mar é rio, a água é incerto estado
e braços são quem põem remo a remar.

Brincava na falésia o antigo mar;
do gênio, só reflexo impensado;
o elo entre ele e mundo é feito a nado,
esgota-se a garganta de cantar.

*Luis Maffei_1974-_Signos de Camões_2013