Canção praiana
Impossível compor um poema
entre meio-dia e quatro horas da tarde.
A última possibilidade de poesia
esgotou-se com a manhã.
Sobre as pedras, a oferenda diluiu-se.
O mar roeu velas e flores.
Voejam moscas no amarelo dos quindins.
Há exagero de crianças, picolés,
excesso de riso e celulite,
uma demasia de corpos.
Coxas devolutas ondulam, soberanas.
Roçam, num dengue de cadela.
Só maridos fidelíssimos apreciam com moderação.
O sol pica e come feito caminhoneiro,
e a poesia silencia, preguiçosa.
Deixo dormir o poema, coitadinho!
Entre meio-dia e quatro horas da tarde,
a areia é prosa honesta,
terminando em sexo ou sesta.
*Ana Mariano_19??-_Olhos de cadela_2006