125º Poema da Semana | 16dez2014

Canção praiana

Impossível compor um poema
entre meio-dia e quatro horas da tarde.
A última possibilidade de poesia
esgotou-se com a manhã.

Sobre as pedras, a oferenda diluiu-se.
O mar roeu velas e flores.
Voejam moscas no amarelo dos quindins.

Há exagero de crianças, picolés,
excesso de riso e celulite,
uma demasia de corpos.
Coxas devolutas ondulam, soberanas.
Roçam, num dengue de cadela.
Só maridos fidelíssimos apreciam com moderação.

O sol pica e come feito caminhoneiro,
e a poesia silencia, preguiçosa.

Deixo dormir o poema, coitadinho!

Entre meio-dia e quatro horas da tarde,
a areia é prosa honesta,
terminando em sexo ou sesta.

*Ana Mariano_19??-_Olhos de cadela_2006