130º Poema da Semana | 27jan2015

Entressono

Tange um sino sem badalo
e memória já não há.
Há inverno das paredes,
há cama, terra de adeuses,
e há silêncio nevando
em câimbra insensorial.
Nos mares da noite, em volta,
os peixes do sono esquecem
os seus remotos caminhos.
A água prendeu o peixe,
a sombra gelou no ar,
sombra saída de mim,
retardatária e dormente.
Não resta mais que um contorno
de branca ausência.

*Maria Ângela Alvim_1926-1959_Outros poemas_1950-1955