Ditadura da popularidade
I
O povo está no poder: dita.
É mercado, é opinião
sem face. É a miséria
da popularidade.
São padres cantantes,
moças na dança.
Leve a música
e o gesto leve,
crença, bunda e sabonete.
II
As pesquisas ditam.
Mandam: o povo está
sempre certo. O povo é,
o povo quer, o povo
demanda, o povo
reclama.
Mandam: seja apenas
a mesma merda
que o povo
ama.
III
Mandam: seja aeromoça na vida.
Sorria sempre: bailarina medíocre.
Faça-se média. Desconsidere-se.
Não pense, nunca faça pensar,
não seja irônico,
diga só o que querem: ouvir-se
no espelho da mesmice.
Deixe-se xingar, entregue-se,
venda-se de corpo e alma.
E, acima de tudo, calma:
nunca reclame
(des)contente(-se) e cale-se.
(…)
*Frederico Barbosa_1961-_Na lata: poesia reunida_1978-2013