161º Poema da Semana | 16fev2016

Zicartola

(…) Inda mais: havia Cartola. Era um alma boa, nascido e criado nas rodinhas, forjado no samba, pelo samba, na pureza, sem maiores embelecos. Pontificava havia já uns trinta anos. Tinha no espírito alguma coisa daquela renúncia rara da música pela música, coisa não aprendida em bancos escolares, e sem objetivos outros – viver na sua reserva de sonhos.
Compunha porque gostava. Isso era tudo. Como era da Manga compunha para a Mangueira. A escola saía à avenida, anos e anos, cantando ritmos de Cartola. Muita vez, o crioulo de nariz de couve-flor – a evidenciar um entornador de cachaça – foi premiado nos carnavais. Querido, cortejado, admirado no meio das escolas todas.(…)

*João Antônio_1937-1996_Zicartola_1991