Réquiem para um cão morto
não choro mais a morte do meu cão
agora transformada em decassílabo
mas não por ter-se transformado em ritmo
que oscila entre o heroico e o imperfeito
como ele próprio entre o imperfeito e o heroico
porém porque sua perda é uma presença
mais fiel, mais companheira que os cães
(que jamais abandona o novo dono
sombra da sombra que jaz a seus pés
mas cujo corpo, morto, habita a alma
como um corpo estranho entranhando um corpo
aviva a carne morta em carne viva)
e porque sua perda é uma tal presença
não há mais por que chorar essa perda
(porque chorar é para encher de lágrimas
o vazio que as lágrimas esvaziam
ao transbordar-se do vazio do olhar)
*Luis Dolhnikoff_1961-_Lodo_2009