Gênese
No início era o Pai. Depois, o silêncio do Pai. Depois, a
falta.
A noite é labirinto nesta casa, onde coisas e corpos se
aplicam à felicidade e não se perguntam por fantasmas,
apenas os deixam escapar, às vezes.
Três fantasmas me habitam: o pai tem no rosto o mesmo
olhar como se a mágoa nele contida o inundasse até não
caber outras, até a estabilização da tristeza.
A mãe se orgulha de lavar, cozinhar, passar. Repassar
os dias que amanhecem outros até o último que ela
desenha e rasga.
O vômito na boca do estômago, na ponta dos dedos,
nos delírios que evito: assombrações desenhadas pela
alma.
Alma desenha?
Depois vieram as palavras.
*Cida Sepulveda_19??-_Fronteiras: poemas_2008